segunda-feira, 12 de março de 2012

SAÚDE

10/03/2012 12h00 - Atualizado em 12/03/2012 04h11
Mais de 180 pacientes esperam por transplantes de rins em SE

Medo e falta informação contribuem para o não andamento da fila.

Por Adriana Meneses


A angústia da espera, a expectativa de uma vida nova e cheia de saúde. Nessa corrida contra o tempo vivem 181 pacientes portadores de doenças renais crônicas em Sergipe, que esperam por um transplante. Essa enfermidade que atinge mais de 10 milhões de brasileiros, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, lidera o número no ranking das filas de transplante de órgãos em Sergipe. 




De acordo com o nefrologista e transplantador Manoel Pacheco (foto acima) as doenças renais crônicas são diagnosticadas em cinco estágios, que vai do um, quando é identificada uma pequena lesão nos rins, até o estágio cinco, quando o órgão já perdeu mais de 85% das suas funções, e são causadas por hipertensão (pressão alta), diabetes ,glomerulonefrites ,doenças hereditárias como a doença policística ,obstruções (pedras nos rins, tumores) e infecções nos rins.


Dados da Central de Transplante de Sergipe apontam que o número deste procedimento cirúrgico que envolve o transplante de rins vem diminuindo ao logo dos anos, sendo em 2007 (24), em 2008 (12), 2009 (18), 2010 (7) e em 2011 apenas (5), incisões cirúrgicas. E há um grande aumento na fila de espera para quem tenta obter um novo órgão.


Segundo Manoel Pacheco, esses número vem diminuindo em virtude da falta de conhecimento da população no que diz respeito ao tema doação de órgãos. Ele afirma que a fila poderia ser bem menor se a população tivesse consciência da importância da doação de órgão que podem ser feitas através de doador vivo. Isso porque qualquer pessoa saudável que concorde com a doação poderá doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea e parte do pulmão, ou por doador falecido, que são pacientes em UTI com morte encefálica, geralmente vítimas de traumatismo craniano ou AVC (Acidente Vascular Cerebral).


“As pessoas não conhecem o procedimento transplante de órgãos, no caso dos pacientes vivos eles têm medo de um dia passar por alguma enfermidade e precisar do órgão que doou, já os parentes de doadores mortos imaginam que o corpo do seu ente querido ficará danificado ou desfigurado, o que é mera ilusão, pois o cadáver fica em perfeito estado após a retirada os órgãos”, observou.




E justamente por causa deste medo e da falta de informação que o aposentado José Geraldo (foto), 49 anos, portador de doença renal crônica, e que passas pela máquina de hemodiálise três vezes por semana, espera há oito anos por um rim na fila de transplante. Segundo ele, após descobrir que precisaria de um transplante a família o abandonou. “Se não bastasse o sofrimento a que e está sendo submetido a uma hemodiálise, ainda tenho que sofre pelo abandono da minha família que não me dá apoio e acabaram sumindo para que eu não pedisse que eles fizessem um exame de compatibilidade comigo”, desabafou. 




Quem também passa pela espera de uma doação de rins é a jovem estudante e mãe de um garotinho de 5 anos, Gilvaneide Avezedo (foto). Ela conta que há dois anos espera por um transplante, e que seus dias após a descoberta da doença renal mudou toda sua rotina, inclusive sendo abandonada pelo marido, depois que passou a fazer hemodiálise também três vezes por semana. Ela conta ainda que seus pais não podem fazer a doação de um rim por problemas de saúde, mas seu irmão, um possível doador tem medo de fazer o exame, ser compatível e ter que passar pelo procedimento cirúrgico. “Mas Deus proverá. Tenho certeza que Deus vai me ajudar a sair desse sofrimento. Minha rotina mudou muito hoje saio de Japaratuba para Aracaju três vezes por semana para fazer a hemodiálise o que me faz ter uma vida bastante regrada. Quero ter a oportunidade de ser transplantada para poder trabalhar, cuidar de meu filho, viajar e poder sair com meus amigos”, ressaltou.

Amor ao próximo


Mas nem todo mundo tem essa falta de conhecimento, e demonstra mesmo em um momento de profunda dor a possibilidade de oferecer ao próximo (um desconhecido) a oportunidade de uma vida nova, como foi o caso da empresária Cristiane Prado (foto aquivo com seu esposo), que veio a perder seu esposo o advogado Rogério Esteves, após ele ser atropelado por um veículo no último mês de dezembro.




De acordo com Cristiane, a equipe médica diagnosticou a morte encefálica do seu esposo, e, imediatamente, decidiu autorizar a doação dos órgãos de Rogério Esteves. “Quando recebemos a notícia da morte encefálica decidimos imediatamente a doação para que fossem aproveitados os órgãos, já que Rogério tinha uma excelente saúde, e explicitava várias vezes essa vontade. Nós sempre conversávamos sobre isso”, disse.

Do corpo do advogado foram aproveitadas só as córneas e os rins, devido a problemas de logística da Rede Nacional (problemas com horários de vôos). Mas mesmo assim a empresária se sente feliz e emocionada em poder ter ajudado amenizar o sofrimento de alguém que precisava desses órgãos. “Foi um momento que não há palavras que expliquem essa emoção! Eu estava lá no momento em que os órgãos foram retirados. Os rins passaram por nós e foram direto pro Hospital São Lucas, pois já seria transplantados. Chorei muito e agradeci pessoalmente a toda equipe do HUSE, desde a psicóloga que esteve a todo momento ao nosso lado até os médicos que executaram o procedimento técnico.Rogério era um ser do bem, amigo, companheiro, humano e saber que ele contribuiu com a vida de outras pessoas conforta e muito os nosso coração”, lembrou.

Inclusão na lista e doação

De acordo com o coordenador da Central de Transplante de Sergipe, Benito Oliveira, a inclusão na lista de transplante é feita via internet, pelo médico cadastrado como transplantador e responsável pelo paciente, após o diagnóstico da necessidade do transplante. Ele informa ainda que para ser doador não é necessário deixar nada por escrito, em nenhum documento, basta apenas  comunicar a sua família do desejo da doação. A doação de órgãos só acontece após autorização familiar.


Quem pode ser um transplantado?
 

Podem se beneficiar de um transplante:


Coração: portadores de cardiomiopatia grave de diferentes etiologias( Doença de Chagas, isquêmica, reumática).


Rim: portadores de insuficiência renal crônica por nefrite, hipertensão, diabetes e outras doenças renais.


Fígado: portadores de cirrose hepática por hepatite, álcool ou outras causas.


Pâncreas: Diabéticos que tomam insulina ( diabetes tipo I) em geral, quando estão com doença renal associada.


Córneas: portadores de ceratocone, ceratopatia bolhosa, infecção ou trauma de córnea.


Medula óssea: portadores de leucemia, linfoma e aplasia de medula.

Outros dados de transplantes em Sergipe


Dados da Central de Transplante de Sergipe apontam que existem atualmente 92 pacientes na lista de espera de receptores de córnea, e esse número vem diminuindo a cada ano em virtude dos números crescentesde transplantes onde acontecerão em 2007 (54) procedimentos cirúrgicos, em 2008 (59), em 2009 (102), em 2010 (82), e em 201 (138).


Porém, em virtude da grande dificuldade de encontrar um doador e do paciente não suportar a espera e acabar morrendo, não existe nenhum candidato a receptor de coração na lista da Central de Transplante.

Central de Transplante de Sergipe


A Central de Transplante de Sergipe funciona 24h por dia. Possui em seu quadro dois médicos, oito enfermeiros, três técnicos de enfermagem, um auxiliar de enfermagem e um psicólogo. O Estado de Sergipe já possui também a Organização de Procura de Órgãos (OPO), que conta com dois médicos, cinco enfermeiros, quatro técnicos de enfermagem. Eles fazem um trabalho de busca pelo doador, após o diagnóstico e consentimento da família a condução do processo, e quando há um potencial doador auxiliar na manutenção do mesmo.


A Central de Transplante coordena as atividades de transplantes no Estado, promovendo campanhas educativas e de sensibilização a fim de divulgar a Política de Transplantes e envolve a sociedade com a questão.


Mais informações através dos números:
(79) 3259-3491 / 2899 / 0800-284-3216

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